quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A Garota Dinamarquesa


Fui assistir A Garota Dinamarquesa com altas expectativas, afinal é sobre a primeira pessoa a fazer uma cirurgia de redesignação sexual de que se tem conhecimento. Fui esperando uma história super envolvente e uma atuação incrível do Eddie Redmayne. E como toda expectativa alta tem grandes chances de decepcionar foi o que aconteceu.

O filme é bom. Acima da média até. E com certeza Eddie Redmayne é um excelente ator. O problema é que eu não consegui me conectar com a personagem principal. A transição de Einer  Wegener para Lili Elbe me pareceu muito pautada em aspectos superficiais do que é ser mulher. Não senti um aprofundamento emocional da personagem na trama. Um desnudar-se para além do físico.  

Não é a meia de seda, o vestido de renda, o salto alto que fazem uma mulher. Não é o jeito de sentar ou a posição de pousar as mãos sobre as pernas. O que eu senti no filme foi que a transição se deu muito através de uma identificação do protagonista com os estereótipos de gênero e não com a subjetividade do ser mulher.

E estranhei o fato de que ao se tornar Lili todo o amor e tesão que ele sentia pela esposa virou amizade. Como se mulheres necessariamente precisassem se apaixonar por homens. Sendo que antes do uso das roupas e da peruca é passado ao expectador que eles tinham uma vida sexual feliz. Nesse ponto acredito que o filme caiu na heteronormatividade compulsória – mais uma vez apegando-se a papeis limitados de gênero.

Mas aí tem a personagem da Gerda Wegene, interpretada por Alicia Vikander, que é o oposto disso. Ela é uma mulher lutando para se estabelecer num mundo de homens, desafiando papéis impostos. Porém, ao mesmo tempo é uma esposa que ama seu marido, que sofre ao perceber seu relacionamento naufragar a medida que Einer deixa de existir. Seu companheirismo e sua abnegação é que são sim típicos do que é ser socializado como mulher. É o se sacrificar por quem se ama. É o abrir mão de si em detrimento do outro, que vai muito além da roupa que se veste.

Se a intenção é entrar na pele do que é ser mulher tem-se que ir pelo caminho oposto do estereótipo e se pensar no que nos faz ser o que somos. É preciso contexto histórico e social. É preciso muito mais que um salto alto.

Em tempo: A cena que Einer cai no chão por uma cólica bem mostra como ser socializado como homem é não saber lidar com a dor. Física e metafórica.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Casa Grande!

Recentemente assisti ao filme nacional Casa Grande e fiquei pensando na representação feminina nesse tipo de produção, que tem como proposta ser um filme de formação. Como em vários romances do tipo, a história é aquela que a gente já viu em vários meios e formatos: garoto-branco-cis-hétero-classe alta que começa a sair da redoma em que foi criado para conhecer o mundo.

Todos os clichês do gênero estão lá: a decadência financeira, a alienação, a iniciação sexual com a empregada da família, a namorada de classe social mais baixa.  Apesar disso, achei Casa Grande um bom filme e que consegue prender a atenção. O plano inicial é ótimo e as atuações passam verdade. Gostei também do fato das personagens terem agência e nuances.

Apesar do protagonismo masculino, não deixei de reparar que as personagens femininas são as melhores: da emprega à mãe, passando pela filha adolescente todas são fortes de alguma maneira e, principalmente, sabem se posicionar.  A cena em que a namorada do protagonista o deixa sozinho no motel depois de ser questionada se era mesmo virgem por conta de seu comportamento ativo é empoderamento puro. 

O fato de essas personagens femininas existirem em Casa Grande é lindo, mas também traz à tona a questão de que mesmo que sejam interessantes as mulheres raramente são protagonistas. A história ainda gira em torno dos homens. O filho, o pai. Li que o diretor (que também é o roteirista) fez o filme inspirado na história de sua família, o que explica, mas não justifica. A verdade é que o neutro ainda é o masculino. E a culpa não é de Casa Grande e sim de uma cultura que até aceita que sejamos foda, mas apenas nos bastidores, no apoio.

Se romances de formação muitas vezes passam pela perspectiva do autor, que tenhamos mais mulheres autoras e diretoras. E que filmes protagonistas feministas não sejam mais vistos como “mulherzinha” ou menos rentáveis. Em resumo, saí de Casa Grande pensando que é um filme que merece ser visto, mas que deixa sim o gostinho de que as histórias não precisam ser sempre sobre Jean. Falar de Natalie seria interessante também.



segunda-feira, 13 de abril de 2015

BH + Inhotim!

Feriado de Páscoa e eu a miga resolvemos que uma opção boa, bonita e barata era fazer o combo Belo Horizonte + Inhotim, em três dias. Seguem as impressões da nossa viagem pela terra do pão de queijo! ;)

Como ir?

A opção mais rápida é o avião (cerca de uma hora de voo) e as passagens não costumam ser caras se compradas com antecedência, porém a gente acabou optando por ir de ônibus mesmo porque a relação preço x horário de saída era melhor. Outra vantagem do bus é que a rodoviária já deixa no centro da cidade, enquanto o aeroporto é afastado. A viagem durou cerca de sete horas e como pegamos durante a noite deu para ir dormindo. 

Onde ficar?

Como BH não é uma cidade cara a gente conseguiu ficar num bom hotel sem deixar um rim para pagar. Optamos pelo Promenade Toscanini por sua localização (perto do Savassi) e não nos arrependemos. O hotel é ótimo (quarto dyvoso), o café da manhã era bem gostoso e o atendimento dos recepcionistas foi pura simpatia, inclusive deixaram a gente fazer o check in mais cedo sem nenhum problema. Super recomendo!

O que visitar em BH?

A ideia era fazer a região da Praça da Liberdade e da Pampulha no primeiro dia...Plano perfeito se não fosse sexta-feira santa!!! A gente não fazia ideia, mas a cidade literalmente para nesse feriado. As ruas estavam tão vazia que eu não estranharia se aparecesse um zumbi a qualquer momento! A gente acabou indo nos dois lugares, mas entrar mesmo se foi possível no CCBB e na Casa do Juscelino Kubitschek. Mas o passeio-furada, apesar dos pesares, rendeu boas fotos e muitas risadas porque entre amigas é sempre farra né. No domingo a gente conseguiu ir na feira Feira de Arte e Artesanato da Av. Afonso Pena, que rendeu boas comprinhas (ótimo preço), passeamos pelo Parque Municipal Américo Renné Giannetti, que me lembrou a Quinta da Boa Vista, e ainda conhecemos o Museu de Artes e Ofícios, que é bem interessante.

Onde comer?

Na sexta-feira a gente tomou café da manhã na rodoviária, numa cafeteria bonitinha e com preço bom. O almoço-jantar acabou tendo que ser na praça de alimentação do shopping Pátio Savassi, o que foi igual a qualquer refeição desse tipo, ou seja, nada de mais. Porém depois a gente dividiu um brownie na Cappuccini que estava uma delícia. No sábado almoçamos no Inhotim mesmo, numa pizzaria/lanchonete que deixou muito a desejar, mas comida desse tipo de lugar costuma ser cara e caída mesmo, não tem jeito. À noite fomos num barzinho descolado chamado Meet Me, que tinha bons drinks e hambúrguer delicioso, fora um clima bem descontraído e legal. Não é baratinho, mas nada que assuste um carioca. No domingo almoçamos no Pizza Sur, que tem uma pegada argentina. Recomendo fortemente a empanada de chocolate com banana como sobremesa. *-*

Vale a pena ir ao Inhotim? 

Sim! O parque é lindo, lindo, lindo! Passar o dia caminhando por ele é muito agradável, rende fotos bem legais e ainda é uma boa oportunidade para ter contato tanto com a natureza quanto com obras de arte contemporânea de vários artistas. As esculturas e instalações estão distribuídas pelo Instituto Inhotim ao ar livre e também em galerias. Só recomendo fugir da lojinha de lembranças porque 35 dinheiros numa caneta é mucho abuso.
O valor da entrada de sexta a domingo e feriados é 40 reais. Quartas-feiras é 0800 e terças e quintas saí por 25 reais. Eles trabalham com meia-entrada de acordo com a lei. Para quem quiser economizar sola de tênis ou tiver problemas de locomoção eles oferecem serviço de transporte interno por 20 dinheiros. Eu e a miga optamos por caminhar e achamos que valeu a pena. Foi um pouco cansativo, mas aí era só sentar e descansar um pouco antes de seguir o mapa. Para chegar lá optamos pelo bus que saí da rodoviária para o Inhotim de manhã e volta para BH quando o parque fecha, às 17 horas. 

Resumo da história? 

Não vá a Belo Horizonte no feriado da Sexta-Feira Santa, mas a cidade vale uma visita num final de semana ou feriado não religioso sim. Acredito que em uns dois dias dá para cobrir os principais pontos. Ah, e recomendo atenção com os taxistas, como em qualquer lugar, já que turista sempre é enrolado e com a gente não foi diferente. Não deixem de conhecer o Inhotim, que inclusive é um excelente programa para quem tem filhos pequenos. Vimos várias crianças se divertindo muito por lá. E por último, mas não menos importante, viajar com amiga é tudo de bom! Obrigada pela companhia, xuxu! =D












sexta-feira, 13 de março de 2015

KANDINSKY!

Sem poder beber por motivos de antibiótico, o tradicional chope de sexta virou uma ida ao CCBB para conferir a exposição KANDINSKY: TUDO COMEÇA NUM PONTO! Eu já queria conferir a mostra, mas depois dos comentários de um casal de amigos fui com o pé atrás. Eles haviam me alertado que havia pouco Kandinsky e muito traje xamânico...

E é verdade! A exposição ocupa todo o segundo andar, mas o que mais se vê são obras de outros pintores e objetos para contextualizar as influências artísticas, como os tais trajes, trenós, rocas de fiar (me senti a bela adormecida) e até uma porta! Acredito que se fossem levar ao pé da letra o nome da mostra e colocassem somente obras do artista russo elas ocupariam uma ou duas salas, no máximo. Ficaria igual à exposição da Tarsila, que eu nunca superei por ser tão pequena.

Isso não quer dizer, no entanto, que a visita não valha a pena. As obras expostas são realmente bonitas e expressivas, tanto as de Kandinsky quanto as dos outros artistas. É um passeio interessante pela arte abstrata! E no primeiro andar tem uma instalação bem legal, para quem quiser tornar a experiência mais imersiva e lúdica. Para os rhykos, a livraria tem o catálogo da exposição. Não encontrei a versão grátis, que costuma ter nas mostras do CCBB.

O Centro Cultural Banco do Brasil fica na Rua Primeiro de Março, 66. A entrada é franca e funciona de quarta a segunda, das 09 às 21 horas. A exposição KANDINSKY: TUDO COMEÇA NUM PONTO fica em cartaz até o próximo dia 30 de março e é uma ótima pedida para ir depois do trabalho! ;)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Loja Heroicas!

Tem como não amar uma loja cuja proposta é encher nossos corações (e guarda-roupas) com imagens de mulheres incríveis e frases empoderadoras? Pois assim é a Heroicas, uma marca linda e necessária que traz camisetas, bottons (sempre vou achar que o nome é broche rs), canecas, ecobags e almofadas com personagens que vão de Simone de Beauvoir a Mafalda. A cara do girl power! Uma excelente opção para as mulheres e meninas que se identificam com a causa! ;) 
A loja é virtual, mas elas entregam para todo o Brasil por PAC e SEDEX e o preço é justo. Eu descobri a marca por acaso (alguma amiga lynda postou no Face) e toda animada comprei uma camiseta e uma bata, sendo que a bata ficou grande (apesar de ser PP) e o processo de troca foi super simples, além de atencioso. Inclusive elas pegaram o feedback das consumidoras e fizeram alterações nas modelagens, para deixar mais compatível com a realidade das meninas GG e PP. Muito amor, não? 
Para quem quiser conhecer melhor a proposta, elas possuem um blog super legal. Também é possível acompanhar o perfil da marca no Facebook e no Twitter. A heroicas nasceu em outubro de 2014, mas já mostrou que veio para ficar!  =)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Grandes Olhos (Big Eyes)!

Fui assistir Grandes Olhos (Big Eyes) sabendo que era o "filme do Tim Burton que não tem cara de filme do Tim Burton" (nem tem o Johnny Depp ou a Helena Bonham Carter no elenco, vejam só! rs), que tinha a Amy (Maravilhosa) Adams como protagonista e que era sobre uma artista que teve que brigar com o ex marido pela autoria de seus obras. E o filme é isso mesmo, só que muito mais.

A história é baseada na vida pintora americana Margaret Keane (Amy Adams), cujos quadros de crianças com grandes e expressivos olhos renderam muita fama e dinheiro para seu marido Walter Keane (Christoph Waltz), que passou uma década fingindo ser o autor das obras e oprimindo a esposa para que ela não revelasse a farsa. Margaret era uma mulher separada em plena década de 1950, com uma filha pequena para criar e sem muitas perspectivas profissionais, o que a levou a confiar em Keane para ajudá-la a recomeçar, mas logo o amor e o encantamento se transformaram em uma prisão emocional.

É fácil cair no lugar comum de julgar Margaret como fraca por ter se omitido já que claramente o talento era dela e não seria difícil provar isso, mas com um pouco de empatia é possível perceber o quanto era difícil para ela se livrar das amarras desse relacionamento abusivo. O caminho do empoderamento não é fácil, nem rápido, nem indolor. Seja na década de 1950 ou nos dias atuais é difícil ser mulher. É difícil ter voz. É difícil confiar em si mesma e lutar em um mundo de "homens e para homens". 

Admito que acompanhar os anos em que a artista foi explorada e viu sua vida girar em torno da vontada do marido, sem conseguir manter amizades ou mesmo ter uma boa relação com a filha por conta da necessidade de manter o segredo sobre os quadros é de cortar o coração e me angustiou demais. Remexi muito na cadeira! Eu queria entrar na tela e resolver tudo, sabe? Mas Margaret precisava de tempo.Todas precisamos.

Apesar do tema complicado, Grandes Olhos não é um drama pesado. Ele incomoda, mas consegue fugir do dramalhão. Amy Adams está contida na atuação, como a personagem exige. Christoph Waltz faz o seu já clássico papel de vilão carismático (eu só consigo achar irritante mesmo), o que rende um certo mais do mesmo, mas que não chega a comprometer o andamento do filme. Eu preferia outro ator para o papel, mas ok. Talvez eu esteja sendo implicante. A única coisa que achei meio fora do tom foi a cena do tribunal, que considerei um pouco cômica demais, porém acredito que seja porque o filme me tocou de tal forma que não consigo lidar muito bem com o desenrolar ter uma pegada tão leve em virtude de tudo que estava em jogo. 

Grandes Olhos é a primeira obra do Tim Burton que eu consigo gostar desde Edward Mãos de Tesoura e apesar de ter me despertado algumas pequenas implicâncias o considero um filme muito bom e necessário. É preciso que se produza cinema com protagonistas mulheres interessantes e complexas, é importante mostrar que a luta por tomar as rédeas da própria vida não é fácil, mas vital e vale a pena. E é lindo que Margaret tenha conseguido reunir coragem para recuperar o domínio sobre seu trabalho e que esteja viva para ver sua história ganhar as telas. Que ela sirva de inspiração para todas nós. 

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

(Livro) Garota Exemplar!

**Texto com Spoilers**

Eu poderia dizer que o fato de ser produtora editorial faz com que eu goste de ganhar livros, mas a verdade é que meus olhinhos sempre brilharam por esse tipo de presente (o que pode explicar a escolha da carreira, no final das contas) e quem me conhece sabe. E quem sabe me dá de livros (e pinguins, outra paixão) e me deixa feliz como criança que ganhou brinquedo novo.

E uma dessas pessoas fofas, amiga e também filha da ECO/UFRJ, me presenteou neste aniversário com Garota Exemplar e comentou que “azamigas feministas estão gostando muito”. Eu já tinha ouvido falar deste livro quando do lançamento do filme inspirado nele, mas admito que na época não me chamou atenção e deixei para lá.

O livro ficou uns dias na minha estante porque eu estava lendo outro e sou uma mocinha fiel (um livro por vez!), mas quando terminei o anterior resolvi apostar que Garota Exemplar seria uma boa companhia para os dias de folga que eu teria na semana do Natal e coloquei na mala. E que livro! Estou simplesmente apaixonada pela Gillian Flynn (a autora).

A história realmente gira em torno do desaparecimento de Amy e da suspeita que começa a pairar sobre Nick, seu marido. Mas é MUITO mais que isso. A autora intercala os capítulos entre relatos de Nick no presente, já durante as buscas pela esposa, e trechos de diários de Amy ao longo dos sete anos de relacionamento e cria um clima de “ele disse, ela disse” que envolve bastante o leitor. “Escolha um lado”, parece dizer a narrativa.

O que eu mais gostei, no entanto, é que a autora nos manipula com perfeição através da protagonista. O primeiro terço do livro (não em número de páginas, mas na divisão da obra) é todo feito para que a gente acredite que Amy é uma mulher gente boa que está tendo problemas com o marido egoísta. A gente fica querendo abraçar ela, sabe? E dizer coisas como “larga esse cara, querida”. O próprio Nick em sua parte como narrador sabe que não tem sido um companheiro muito legal, apesar de ter bastantes queixas a respeito do comportamento da esposa.

E a gente fica nessa angústia, achando que algo aconteceu com Amy (apesar da sensação de ser bem improvável que tenha sido culpa do Nick) e esperando a reviravolta. E ela vem. E vem com tudo. Na verdade a história toda do desaparecimento foi armada pela própria Amy, durante um ano inteiro, a partir do momento em que ela descobriu que estava sendo traída. O plano foi elaborado como forma de punição para Nick. Aí a gente vê como ela é ardilosa e malvada e como já aprontou antes e as coisas sempre deram certo.

A partir desse momento meu maior medo era que o livro caísse no lugar comum de tentar fazer com que os leitores passassem a torcer contra a protagonista afinal ela é uma menina má. Mas isso não acontece porque a essa altura Amy já nos envolveu. E aí veio meu segundo receio, que era dela ser punida ou encontrar algum tipo de redenção a partir do arrependimento/sofrimento/amor. E isso também não veio. E eu amei o livro. Adorei a coragem da autora de escrever uma personagem feminina completamente manipuladora e anti-heroína que não precisa “pagar” por isso no final das contas. Amy é linda, louca, malvada. E se dá bem no final. Como não amar?

A gente até está acostumado com anti-heróis na ficção, mas a maioria é composta personagens homens que fazem tudo errado e que mesmo assim são tidos como charmosos e interessantes e que podem muitas vezes se dar bem sem culpa. Às personagens mulheres que ousam desafiar o papel de boas moças costuma ser dado um desfecho que mostre que não é uma boa ideia ir contra o sistema, a moral e os bons costumes. Por isso eu gostei tanto desse livro, por ser diferente. E entendi a frase da minha amiga, sobre ele estar fazendo sucesso entre as feministas.

O grande mérito de Garota Exemplar, em minha opinião, é se livrar das amarras morais. Isso é ficção, gentes! Não é preciso pautar toda e qualquer história com os parâmetros éticos e morais do mundo real porque isso limita a arte. Nem tudo precisa terminar com uma lição de que só o bem compensa. A verdade é que Amy é uma personagem feminina que tem tudo para ser desprezível, mas que é cativante. E acredito que nos conquista justamente por essa liberdade de ser quem é. Não almejo ser Amy nem conviver com pessoas assim porque obviamente ela é completamente criminosa e cruel, mas quero que ela exista na ficção. Quero que as mulheres tenham esse protagonismo de serem retratadas das mais diversas formas. Que possam ser inclusive más. E sem precisar de desculpas.