sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Casa Grande!

Recentemente assisti ao filme nacional Casa Grande e fiquei pensando na representação feminina nesse tipo de produção, que tem como proposta ser um filme de formação. Como em vários romances do tipo, a história é aquela que a gente já viu em vários meios e formatos: garoto-branco-cis-hétero-classe alta que começa a sair da redoma em que foi criado para conhecer o mundo.

Todos os clichês do gênero estão lá: a decadência financeira, a alienação, a iniciação sexual com a empregada da família, a namorada de classe social mais baixa.  Apesar disso, achei Casa Grande um bom filme e que consegue prender a atenção. O plano inicial é ótimo e as atuações passam verdade. Gostei também do fato das personagens terem agência e nuances.

Apesar do protagonismo masculino, não deixei de reparar que as personagens femininas são as melhores: da emprega à mãe, passando pela filha adolescente todas são fortes de alguma maneira e, principalmente, sabem se posicionar.  A cena em que a namorada do protagonista o deixa sozinho no motel depois de ser questionada se era mesmo virgem por conta de seu comportamento ativo é empoderamento puro. 

O fato de essas personagens femininas existirem em Casa Grande é lindo, mas também traz à tona a questão de que mesmo que sejam interessantes as mulheres raramente são protagonistas. A história ainda gira em torno dos homens. O filho, o pai. Li que o diretor (que também é o roteirista) fez o filme inspirado na história de sua família, o que explica, mas não justifica. A verdade é que o neutro ainda é o masculino. E a culpa não é de Casa Grande e sim de uma cultura que até aceita que sejamos foda, mas apenas nos bastidores, no apoio.

Se romances de formação muitas vezes passam pela perspectiva do autor, que tenhamos mais mulheres autoras e diretoras. E que filmes protagonistas feministas não sejam mais vistos como “mulherzinha” ou menos rentáveis. Em resumo, saí de Casa Grande pensando que é um filme que merece ser visto, mas que deixa sim o gostinho de que as histórias não precisam ser sempre sobre Jean. Falar de Natalie seria interessante também.



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