quarta-feira, 5 de junho de 2013

(Filme) Faroeste Caboclo!

* Não sei se é possível se falar em spoilers num filme baseado em uma música que todo mundo conhece, mas esse texto contém comentários sobre o enredo. * 


Faroeste Caboclo, apesar de seus 9 minutos, é uma das canções mais conhecidas da música brasileira. E levar para os cinemas os versos criados por Renato Russo e imortalizados pela banda Legião Urbana era tarefa tão complicada quanto adaptar um livro de grande sucesso. A grande decisão a ser tomada seria entre seguir fielmente ao que a canção diz ou fazer uma obra livremente inspirada.

Os roteiristas Victor Atherino e Marcos Bernstein e o estreante diretor René Sampaio optaram pelo caminho mais difícil e decidiram por fazer uma história que bebe na fonte da letra, mas que não é um videoclipe. Aos fãs que compareceram ao cinema de letra em punho e sem o coração aberto às mudanças de roteiro, ficou o sentimento decepção. Mas quem foi de mente aberta pôde curtir um bom filme. Quando fui conferir, em seu fim de semana de estreia, o filme Faroeste Caboclo eu já estava pronta para encontrar mudanças nos acontecimentos, uma vez que os atores e diretor do filme haviam deixado isso bem claro durante as entrevistas. Sendo assim minha experiência foi bastante agradável.

O filme de René Sampaio opta por diminuir o tempo na tela dedicado a infância de João de Santo Cristo (Fabrício Boliveira) - que tem alguns pontos importantes esclarecidos através de flashes back durante a trama - e por desenvolver o romance entre ele e Maria Lúcia (Ísis Valverde) mais cedo na história. Algumas passagens da músicas são simplesmente deixadas de lado, outras são mantidas de forma idêntica e a maioria é vista sob uma nova perspectiva, com algumas alterações para se encaixarem no novo roteiro. Também são criados novos personagens, o que para mim faz todo sentido para a história.

As atuações de Ísis Valverde, como Maria Lúcia e César Trancoso como Pablo me agradaram muito. Ísis mostrou de vez que é muito mais do que um "rostinho bonito". É uma atriz de verdade e ponto. Antonio Calloni está excelente na pele de Marco Aurélio, personagem que não está na música, mas que neste filme faz toda a diferença. Eu diria até que ele é o melhor do filme. O Jeremias de Felipe Abib ficou um pouco caricato, é verdade, mas eu até que gostei deste ar meio louco que o ator deu ao personagem. Fabrício Boliveira como João de Santo Cristo, protagonista da história, deixou a desejar para mim. Ele fez o "feijão com arroz" bem feito, mas senti falta de um João mais destemido e carismático.
 
É claro que o filme não é perfeito. Achei desnecessário colocar tantas cenas de sexo entre Maria Lúcia e João, por exemplo. Fiquei com a sensação de que o relacionamento deles acabou sendo mostrado ao espectador como praticamente só baseado nisso e em fumar maconha. É verdade que as sequências de sexo são delicadas e bonitas, mas poderiam aparecer em menor quantidade. Imagino que mostrar os dois em outras situações poderia criar uma história mais sólida de amor. Também me incomodou um pouco a cena final. Achei coerente optar por um duelo sem as câmeras de tv filmando, como acontece na música, mas não consegui aceitar o tiro de Jeremias não ter sido dado pelas costas. Esse era um trecho que para mim fazia muito sentido ser mantido como no original e não mudaria em quase nada a forma como a cena ficou no final das contas. É um detalhe que eu teria gostado de ver. Mas o que mais me incomodou, sem dúvidas, foi o comportamento de João de Santo Cristo em alguns momentos. Eu queria ter visto mais fúria, sabe? Acho mesmo que o ator podia ter investido mais emoção no papel.

De modo geral achei que a versão cinematográfica de Faroeste Caboclo criada por Marcos Bernstein, Victor Atherino e René Sampaio ficou bem feita e coerente e que a qualidade técnica do filme é muito boa, não devendo em nada a produções gringas. Como já é de se imaginar pela letra, este não é um filme para crianças. Existe muita violência em Faroeste Caboclo, mas ela não é gratuita e nem grotesca, o que eu acho um ponto muito positivo. 

Sendo Faroeste Caboclo um filme em que todo mundo já sabe o final, o interessante mesmo é ver como a história se desenrola. Para mim valeu muito a pena ir conferir. Não é um clipe, mas é uma boa história livremente adaptada. Recomendo muitíssimo que se vá assistir de coração e mente abertos, porque é um filme que vale a pena de ser visto, independente de ter sido fiel ou não a sua fonte. Ah, e para quem ficar em dúvida se a obra cinematográfica difere muito da versão musical é só esperar os créditos e acompanhá-los ao som da obra de Renato Russo! ;)

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1 comentário:

  1. Faroeste Caboclo é minha musica favorita há muitos anos e sempre sonhei em ver um filme feito a partir dela. Eu fui um dos que foi para o cinema com a música na cabeça e não li nada sobre o filme antes de assistir.

    Acabei ficando um pouco decepcionado por conta disso, mas em defesa da minha posição, acho que a música tem muitos pontos em aberto para o roteirista resolver e preencher sem precisar mudar a história. E penso que isso estaria longe de ser o caminho mais fácil correndo o risco ainda de ser o mais divertido, não só para que escrevesse o roteiro como para que assistisse o filme. Apesar disso o filme é bom e super recomendo!

    Em defesa do roteiro, acho que no início da história tiveram alguns desses pontos em aberto que falei que foram espetacularmente bem preenchidos, como o que leva João para “reformatório”. A maioria dos personagens criados também foi muito bem pensado, em especial, concordo, o Marco Aurélio (Calloni) que para mim também foi o melhor em cena.

    De resto concordo com seus argumentos e achei essa mais uma postagem excelente.

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