Recentemente
assisti ao filme nacional Casa Grande e fiquei pensando na representação
feminina nesse tipo de produção, que tem como proposta ser um filme de
formação. Como em vários romances do tipo, a história é aquela que a gente já
viu em vários meios e formatos: garoto-branco-cis-hétero-classe alta que começa
a sair da redoma em que foi criado para conhecer o mundo.
Todos os
clichês do gênero estão lá: a decadência financeira, a alienação, a iniciação
sexual com a empregada da família, a namorada de classe social mais baixa. Apesar disso, achei Casa Grande um bom filme
e que consegue prender a atenção. O plano inicial é ótimo e as atuações passam
verdade. Gostei também do fato das personagens terem agência e nuances.
Apesar do
protagonismo masculino, não deixei de reparar que as personagens femininas são
as melhores: da emprega à mãe, passando pela filha adolescente todas são fortes
de alguma maneira e, principalmente, sabem se posicionar. A cena em que a namorada do protagonista o
deixa sozinho no motel depois de ser questionada se era mesmo virgem por conta
de seu comportamento ativo é empoderamento puro.
O fato de
essas personagens femininas existirem em Casa Grande é lindo, mas também traz à
tona a questão de que mesmo que sejam interessantes as mulheres raramente são
protagonistas. A história ainda gira em torno dos homens. O filho, o pai. Li
que o diretor (que também é o roteirista) fez o filme inspirado na história de
sua família, o que explica, mas não justifica. A verdade é que o neutro ainda é
o masculino. E a culpa não é de Casa Grande e sim de uma cultura que até aceita
que sejamos foda, mas apenas nos bastidores, no apoio.
Se romances de
formação muitas vezes passam pela perspectiva do autor, que tenhamos mais mulheres
autoras e diretoras. E que filmes protagonistas feministas não sejam mais
vistos como “mulherzinha” ou menos rentáveis. Em resumo, saí de Casa Grande
pensando que é um filme que merece ser visto, mas que deixa sim o gostinho de
que as histórias não precisam ser sempre sobre Jean. Falar de Natalie seria
interessante também.
Sem comentários:
Enviar um comentário