quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Grandes Olhos (Big Eyes)!

Fui assistir Grandes Olhos (Big Eyes) sabendo que era o "filme do Tim Burton que não tem cara de filme do Tim Burton" (nem tem o Johnny Depp ou a Helena Bonham Carter no elenco, vejam só! rs), que tinha a Amy (Maravilhosa) Adams como protagonista e que era sobre uma artista que teve que brigar com o ex marido pela autoria de seus obras. E o filme é isso mesmo, só que muito mais.

A história é baseada na vida pintora americana Margaret Keane (Amy Adams), cujos quadros de crianças com grandes e expressivos olhos renderam muita fama e dinheiro para seu marido Walter Keane (Christoph Waltz), que passou uma década fingindo ser o autor das obras e oprimindo a esposa para que ela não revelasse a farsa. Margaret era uma mulher separada em plena década de 1950, com uma filha pequena para criar e sem muitas perspectivas profissionais, o que a levou a confiar em Keane para ajudá-la a recomeçar, mas logo o amor e o encantamento se transformaram em uma prisão emocional.

É fácil cair no lugar comum de julgar Margaret como fraca por ter se omitido já que claramente o talento era dela e não seria difícil provar isso, mas com um pouco de empatia é possível perceber o quanto era difícil para ela se livrar das amarras desse relacionamento abusivo. O caminho do empoderamento não é fácil, nem rápido, nem indolor. Seja na década de 1950 ou nos dias atuais é difícil ser mulher. É difícil ter voz. É difícil confiar em si mesma e lutar em um mundo de "homens e para homens". 

Admito que acompanhar os anos em que a artista foi explorada e viu sua vida girar em torno da vontada do marido, sem conseguir manter amizades ou mesmo ter uma boa relação com a filha por conta da necessidade de manter o segredo sobre os quadros é de cortar o coração e me angustiou demais. Remexi muito na cadeira! Eu queria entrar na tela e resolver tudo, sabe? Mas Margaret precisava de tempo.Todas precisamos.

Apesar do tema complicado, Grandes Olhos não é um drama pesado. Ele incomoda, mas consegue fugir do dramalhão. Amy Adams está contida na atuação, como a personagem exige. Christoph Waltz faz o seu já clássico papel de vilão carismático (eu só consigo achar irritante mesmo), o que rende um certo mais do mesmo, mas que não chega a comprometer o andamento do filme. Eu preferia outro ator para o papel, mas ok. Talvez eu esteja sendo implicante. A única coisa que achei meio fora do tom foi a cena do tribunal, que considerei um pouco cômica demais, porém acredito que seja porque o filme me tocou de tal forma que não consigo lidar muito bem com o desenrolar ter uma pegada tão leve em virtude de tudo que estava em jogo. 

Grandes Olhos é a primeira obra do Tim Burton que eu consigo gostar desde Edward Mãos de Tesoura e apesar de ter me despertado algumas pequenas implicâncias o considero um filme muito bom e necessário. É preciso que se produza cinema com protagonistas mulheres interessantes e complexas, é importante mostrar que a luta por tomar as rédeas da própria vida não é fácil, mas vital e vale a pena. E é lindo que Margaret tenha conseguido reunir coragem para recuperar o domínio sobre seu trabalho e que esteja viva para ver sua história ganhar as telas. Que ela sirva de inspiração para todas nós.